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“O desafio virou a oportunidade”, diz David Crispim ao GlobalFert

Confira a entrevista exclusiva do GlobalFert com David Crispim, Diretor de Operações do Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre.

Fonte: GlobalFert
Acesse aqui para ler a entrevista completa no portal da GlobalFert

Durante os últimos anos, a Eurochem vem crescendo no mercado brasileiro com aquisições importantes. Esse ano, vocês marcam uma nova conquista com a inauguração do Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre. Qual o diferencial que a empresa enxerga no mercado brasileiro?

David — O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com capacidade de produzir alimentos para abastecer o mercado nacional e internacional. Consequentemente, somos também um grande consumidor de fertilizantes – ocupamos o 4º lugar no ranking global, com um consumo correspondente a 8%.

Apesar do alto consumo, somos atualmente um dos maiores importadores do insumo no mundo. Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), 85% dos fertilizantes usados no Brasil em 2021 foram importados. Esse é um número bastante expressivo e que indica uma posição de dependência muito grande do país em relação ao mercado exterior.

Entendemos que é importante para o Brasil aumentar a produção nacional de fertilizantes e vemos que o governo tem tomado passos para isso, através do Plano Nacional de Fertilizantes e seu respectivo Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas (CONFERT), o que nos leva a crer que o mercado brasileiro tem grande potencial de crescimento nos próximos anos. 

Este contexto foi um dos fatores que nos levou a investir mais de US$ 1 bilhão no Complexo de Salitre. A unidade vai produzir, em plena capacidade, um milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados por ano, o que representa cerca de 15% do volume de produção nacional, contribuindo com a redução da dependência do agronegócio brasileiro à importação do insumo.

Como mencionado, o Brasil possui uma grande necessidade de produzir fertilizantes em território nacional para diminuir a dependência das importações, tanto para os superfosfatos, mas também para o MAP. O Complexo de Serra do Salitre vem para suprir parte dessa necessidade? Quais fertilizantes fosfatados serão produzidos?

David — O Complexo de Serra do Salitre é uma grande conquista para a EuroChem e, posso dizer, para o Brasil também, pois é um compromisso com a produção agrícola e a soberania alimentar brasileira.

Em 2022 compramos o ativo, que é a nossa primeira unidade fora da Europa que integra mineração, produção e distribuição de fertilizantes, como parte da nossa estratégia de expansão na América do Sul. Recentemente, tivemos o prazer de inaugurá-lo ao lado de autoridades federais, estaduais e municipais, além de representantes do setor produtivo, o que reforça a importância do complexo para o Brasil.

Em plena capacidade de operação, que esperamos alcançar até 2025, o Complexo vai produzir um milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados por ano, entre Super Simples (SSP), Triplo Simples (TSP) e Fosfato Monoamônico (MAP).

Este volume equivale a 15% da produção interna de fertilizantes fosfatados, um número bastante significativo para um único projeto e que reflete a dimensão do complexo.

No Brasil existem alguns desafios na produção de fertilizantes, podemos citar que um deles é o gás natural que acaba gerando entraves na produção brasileira, devido aos preços que muitas vezes não são competitivos. Na visão da empresa, quais são os principais desafios para a construção de uma unidade de fertilizantes no Brasil?

David — Do ponto de vista técnico, além da necessidade de uso intensivo de gás natural para os nitrogenados, podemos listar como desafios a dificuldade de acesso às reservas de potássio do Brasil, já que grande parte está localizada em território amazônico e com características de difícil extração, além do baixo teor de fósforo das nossas reservas minerais, em comparação com outros países. Por exemplo, a rocha fosfática do Marrocos possui em média 33% de fósforo, enquanto a brasileira – material encontrado em Serra do Salitre -, tem em média 4%, o que exige investimentos para enriquecer a matéria-prima para níveis satisfatórios para ser usado como nutriente.

No caso do Complexo de Salitre da EuroChem, o desafio virou a oportunidade, já que adquirimos e investimos em um ativo integrado que possui atividades de mineração, produção e distribuição de fertilizantes no mesmo local, reduzindo custos operacionais e logísticos e que tornam o produto competitivo no mercado nacional, mesmo quando comparado aos concorrentes importado.

Nós sabemos que, no processo produtivo de ácido fosfórico, surge como subproduto, o fosfogesso ou gesso agrícola, que é aproveitado como corretivo nos solos brasileiros. A EuroChem pretende destinar esse produto ao mercado nacional?

David — Um aspecto muito interessante do Complexo de Serra do Salitre é que todas as operações dentro dele buscam potencializar o uso e reuso de recursos e resíduos da operação, seguindo os princípios da economia circular. Isso se aplica ao consumo de água, onde temos um conceito de circuito fechado que garante o reuso de 99% da água, à geração de energia própria pela unidade de ácido sulfúrico, e ao aproveitamento de subprodutos, como gesso, torta e borra de enxofre.

Embora nosso objetivo principal seja produzir fertilizantes fosfatados, entendemos que esses subprodutos têm valor para o mercado agrícola e por isso serão vendidos a empresas interessadas. Seguindo este mesmo raciocínio, estamos estudando a possibilidade de comercializar os rejeitos da barragem.

Agora, com a conclusão do Complexo de Serra do Salitre, quais serão os próximos passos da empresa no Brasil?

David — Com pouco mais de 20 anos de história, a EuroChem é hoje uma das empresas líderes da indústria mundial de fertilizantes minerais, com presença em mais de 100 países e empregando mais de 30 mil profissionais. Este cenário é resultado direto do nosso olhar atento às oportunidades.

O Brasil é um mercado muito estratégico, com grande potencial para desenvolver a indústria de fertilizantes, característica que levou a EuroChem a investir, de 2016 até agora, na aquisição da Fertilizantes Tocantins, no controle acionário da Fertilizantes Heringer e na aquisição e finalização do Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre. Apenas na América do Sul, investimos mais de US$ 2,5 bilhões.

Essas movimentações são relativamente recentes e demandam atenção e dedicação à consolidação dos negócios. No entanto, estamos sempre atentos às oportunidades do mercado que possuam características de integralização vertical do grupo para, assim, seguirmos contribuindo com o agronegócio brasileiro por meio do desenvolvimento da indústria nacional de fertilizantes.

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